Pular para o conteúdo principal

10 proposições para jovens demógrafos [por Massimo Livi-Bacci]

Dez proposições (não um decálogo!) ditadas pela experiência e inclinações pessoais: para o benefício dos jovens demógrafos (100 anos de idade, ou menos)


por Massimo Livi-Bacci (2012) 
[Tradução de Ricardo Dagnino a partir do original em inglês] 

1. Conhecimentos de métodos, modelos, estatística e matemática são essenciais. Mas, antes, adquira um bom conhecimento em uma área disciplinar substantiva em ciências humanas ou sociais ou biologia.

2. Faça do cruzamento de fronteiras disciplinares um hábito, e não uma exceção. Não seja intimidado pela altura das cercas disciplinares ou pela precisão dos perímetros disciplinares. Pegue emprestado e use (não cegamente) conceitos, métodos, resultados - mas compreenda corretamente os seus limites, a importância, a área de aplicação.

3. Qualquer (boa) análise pontual (relacionada a um momento específico ou área geográfica) pode ser relevante. Mas coloque os resultados em perspectiva, através do tempo e do espaço.

4. Abordagens macro e micro para questões populacionais não estão em concorrência, mas devem ser integradas. Macro tendências influenciam micro (individual) comportamentos e vice-versa. Exemplos: modelos malthusianos, fenômenos dependentes da densidade, etc

5. Relacione e integre os diversos fenômenos demográficos em um "sistema demográfico". Fenômenos não são independentes, mas interdependentes, através do funcionamento do sistema. Sistemas mudam ao longo tempo.

6. Comportamentos demográficos (entrar numa união, ter filhos, mobilidade, comportamentos saudáveis, sobrevivência ...) são essenciais, componentes básicos do capital humano. Eles são habilidades, capacidades, prerrogativas (ver A. Sen).

7. Não desanime se não há "dados apropriados", ou o "banco de dados" necessário não está disponível a um clique do seu PC. “Quod non est in numero non est in mundo”?

8. Não altere o objeto de estudo só porque há muito dinheiro para pesquisa em um campo diferente (contracepção, planejamento familiar, AIDS, envelhecimento ...).

9. Sobre qualquer tema pode haver literatura relevante em línguas diferentes do inglês.

10. Demografia é central para as ciências sociais, não é uma disciplina subserviente, auxiliar e periférica.

[Tradução do inglês por Ricardo de Sampaio Dagnino]

Referência:

LIVI-BACCI, Massimo. Ten propositions (not a decalogue!) dictated by experience and personal inclinations: for the benefit of young demographers (100 years old, or less). In: TURRA, Cássio; CUNHA, José Marcos. (Org.) População e desenvolvimento em debate: contribuições da Associação Brasileira de Estudos Populacionais. Demografia em Debate – Volume 4. Belo Horizonte: ABEP, 2012. (p.37)  ISBN: 978 85-85543-26-6. http://bit.ly/DemografiaEmDebate4


Reprodução da publicação e do texto original


 
Reprodução capa da publicação e do texto de Livi-Bacci, na página 37



Original: 

Ten propositions (not a decalogue!) dictated by experience and personal inclinations: for the benefit of young demographers (100 years old, or less)


Massimo Livi-Bacci

1. Knowledge of methods & models, statistics & mathematics is essential. But before, acquire a good understanding in a substantive disciplinary area in the humanities or social sciences or biology. 

2. Make of crossing disciplinary borders a habit, rather than an exception. Don’t be cowed by the heigth of disciplinary fences or by the precision of disciplinary perimeters. Borrow and use (not blindly) concepts, methods, results – but understand properly their limits, significance, area of application. 

3. Any (good) punctual analysis (related to a specific time or geographic area) maybe relevant. But put the results in perspective, across time and space. 

4. Macro and micro approaches to population issues are not in competition, but must be integrated. Macro trends influence micro (individual) behaviors and viceversa. Examples: malthusian models, density dependent phenomena, etc. 

5. Relate and integrate the various demographic phenomena into a “demographic system”. Phenomena are not independent but interdependent via the functioning of the system. Systems change over time. 

6. Demographic behaviors (entering a union, having children, mobility, healthy behaviors, survival…) are essential, basic components of human capital. They are abilities, capabilities, prerogatives (see A. Sen) 

7. Do not be discouraged if there are no “appropriate data”, or the needed “database” is not available at a click of your PC. “Quod non est in numero non est in mundo”?

8. Do not change subject of study just because there is plenty of reasearch money in a different field (Contraception, family planning, AIDS, ageing...).

9. On any topic there might be relevant literature in languages different from English. 

10. Demography is central to social sciences, it is not a subservient, ancillary, peripheral discipline.


Referência

http://www.abep.nepo.unicamp.br/docs/ebooks/Demografia_em_Debate/DemografiaemDebateVol4.pdf

Comentários

Postagens mais vistas nos últimos 30 dias

Classificação de localidades brasileiras para o IBGE e outras fontes

Postagem de 11/08/2015 - Atualizada em 27/05/2025 - Por: Ricardo de Sampaio Dagnino As localidades no Brasil podem ser definidas como uma "c ategoria que agrupa as feições que representam [...] os diversos tipos de concentração de habitações humanas. Exemplo: cidades, municípios, vilas etc.", conforme o Banco de Nomes Geográficos do Brasil: manual de uso (IBGE, 2024, pág. 15).  Definição semelhante pode ser lida nas "Noções básicas de cartografia. Vol. 1." (IBGE, 1999, pág. 73) e também nas "Especificações técnicas para aquisição de dados geoespaciais vetoriais do patrimônio imobiliário público federal (ET-ADGV Patrimônio Imobiliário Público Federal)" (BRASIL, 2021, p. 26): "Localidade é conceituada como sendo todo lugar do território nacional onde exista um aglomerado permanente de habitantes." Figura de Localidade nas Especificações para aquisição de dados geoespaciais (BRASIL, 2021, p.26) As Especificações técnicas p...

Expansão urbana da cidade de São Paulo (1800-2000)

Os mapas e arquivos mostrando a expansão urbana de São Paulo estão acessíveis gratuitamente no site da Lincoln Institute of Land Policy, como parte do Atlas da Expansão Urbana, organizado por Angel (2010). Mais informações sobre o Atlas no site . Fonte: ANGEL, S., PARENT, J.;  CIVCO D.; BLEI, A. Atlas of Urban Expansion. Cambridge MA: Lincoln Institute of Land Policy, 2010. Online at  http://www.lincolninst.edu/subcenters/atlas-urban-expansion /. Sobre o projeto: "The Atlas of Urban Expansion provides the geographic and quantitative dimensions of urban expansion and its key attributes in cities the world over. The data and images are available for free downloading, for scholars, public officials, planners, those engaged in international development, and concerned citizens. The global empirical evidence presented here is critical for an intelligent discussion of plans and policies to manage urban expansion everywhere." Sobre os mapas da seção 2 "30 Cities in H...

Resenha do livro Os Riscos, organizado por Yvette Veyret (2007)

Reproduzo abaixo a resenha do livro de Yvette Veyret (Os Riscos, o homem como agressor e vítima do meio ambiente) realizada pela professora Aureanice de Mello Corrêa. Esta resenha foi originalmente publicada no Boletim da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia  (ANPEGE) Nº 4, 2ª Quinzena de Agosto de 2007. Disponível:  aqui   Mais sobre o livro no Site da Editora Contexto Comentário sobre a matéria jornalística veiculada pelo jornal O globo sob o título A vida por um triz e resenha da Introdução do livro: Os Riscos, o homem como agressor e vítima do meio ambiente, organizado por Yvette Veyret publicado pela Editora Contexto, São Paulo, 2007. Por Aureanice de Mello Corrêa (Professora Doutora do Departamento de Geografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro) Na esteira do mal-estar e indignação da sociedade brasileira provocada pelo acidente aéreo do Airbus -320 da TAM em São Paulo no aeroporto de Congonh...