Extraído do item Classificação dos modelos em Rocha e Salvi (2017) - ROCHA, Marcelo Augusto; SALVI, Rosana Figueiredo. Repensando a Tipologia de Modelos em Geografia. Geografia, Ensino & Pesquisa, Vol. 21 (2017), n.2, p. 146-154ISSN: 2236-4994 . https://doi.org/10.5902/2236499424484
[pág. 150]
A partir do momento em que um indivíduo constrói e desenvolve seu modelo, ele passa a confiar nesse e a utilizá-lo sempre que lhe convir. Daí a importância de se construir modelos mentais adequados, pois esses, depois de assimilados, podem ser utilizados durante uma vida inteira.
Classifica-se esses tipos de modelos como não científicos, ou seja, quando são apenas cópias despretensiosas da realidade como miniaturas de objetos reais ou imaginários, como representações tridimensionais de barcos, bonecos, pinturas em quadros, ou como modelo do tipo arquétipo que se busca imitar, como no
[ pag. 152]
caso de pai e filho.
Já os Modelos Didáticos são representações confeccionadas a partir de material concreto, de estruturas ou partes de processos que se pretende representar. Pode-se dizer que são simplificações do objeto real ou fases de um processo dinâmico utilizado para diminuir as limitações presentes nos processos de ensino e de aprendizagem. Podem ser subdivididos em Icônicos, Escalares e Análogos, todos com grande potencial representacional dos fenômenos estudados, tanto pela geografia humana como pela geografia física.
Os Icônicos são representações tridimensionais em escala diferente do objeto original, característica natural dos estudos geográficos, já que esses tratam da análise de grandes extensões do planeta, um exemplo disso é o uso do globo terrestre e dos mais variados mapas temáticos em sala de aula.
Os Escalares possuem um forte argumento a seu favor no que concerne, sobretudo, à análise de fenômenos envolvendo as geociências. Esses contemplam os mesmos materiais e/ou paisagens da realidade com o uso de trabalhos de campo por meio da observação e análise de fraturas, dobramentos tectônicos ou, ainda, de formações rochosas específicas.
Já os Análogos envolvem procedimentos práticos, geralmente em laboratório, para demonstrar uma situação real. Esses fazem uso de diferentes materiais para representar tais eventos. Alguns exemplos dessa modalidade, na Ciência Geográfica, decorrem da confecção de modelos de barragens, de bacias hidrográficas ou de vulcões.
No caso dos Modelos Científicos, a divisão pode ser feita entre modelos Matemáticos, que se distribuem em Simbólicos e/ou Gráficos e os de simulação, e modelos Conceituais ou Teoréticos.
Os simbólicos e/ou gráficos podem ser representados por símbolos, funções matemáticas ou representações cartográficas. Estatísticas, alguns tipos de mapas temáticos, e o modelo da Teoria de Malthus são alguns de seus exemplares, que podem ser representados ainda por modelos Organizacionais, preocupados com a ocupação do espaço e uso do solo. Alguns exemplos desse são os modelos da Teoria dos lugares centrais de Christaller e o modelo da teoria dos cultivos de Von Thunen.
Os matemáticos de simulação são subdivididos em Preditivos/Probabilísticos, quando simulam processos físicos e humanos, nos quais não há certeza do efeito de determinada causa. Como no caso de previsões do tempo e de estudos de evolução climática global, e Descritivos/Determinísticos, quando representam processos reais de causa e efeito. Esses buscam testar processos físicos ou oferecer normas de comportamento humano passiveis de comparação. Alguns exemplos são as simulações envolvendo a evolução urbana, o uso do solo, modelos de Regressão e o modelo da Teoria de Malthus.
Os Modelos Conceituais ou Teoréticos são di-vididos em duas vertentes, uma podendo oferecer pa-radigmas para a geografia, contribuindo assim para a evolução do pensamento geográfico como no caso da Geografia Teorética e da Geografia Crítica, e outra po-dendo auxiliar na formulação de tipos de explicação para determinados fenômenos espaciais ou sociais. A ideologia Marxista ou as ideias contidas no liberalismo são exemplos desse tipo.
Compreender as diferenças e as singularidades de cada tipo de modelo e suas ramificações conceituais aqui apresentadas, podem favorecer o entendimento a respeito dos processos inerentes ao “fazer Ciência” e a aplicabilidade desses nos diversos ramos do saber. Entre esses ramos, destaca-se a formação de professores no âmbito da ciência geográfica, reduto que carece de reflexões dessa natureza, a fim de aproximar os professores hodiernos do debate a respeito do papel dos modelos no desenvolvimento e aplicação de teorias científicas aos fenômenos estudados pela Geografia, bem como sua articulação na construção do conhecimento no cotidiano escolar.
Referências
HAMPSON, P.J. MORRIS, P.E. Understanding cognition. Cambridge, MA: Blackwell Publishers Inc., 1996, 399 p.
HOUAISS, A. Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002.
MINSHULL, R. An Introduction to Models in Geography. London: Longman, 1975.
MOREIRA, M. A. Modelos mentais. Investigações em ensino de Ciências. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, v.1, n.1, abr. 1996.
MORGAN, M. S.; MORRISON, M. Model as Mediators: perspectives on natural and social science. Cambridge University Press, New York, 1999.
PICCOLI NETO, D. O uso de modelos para análise espacial em geografia econômica. In: SEMINÁRIO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA DA UNESP RIO CLARO, 4., 2009, Rio Claro, Anais... 2009, p.438-452. Disponível em: <http://sites.google.com/site/seminarioposgeo/anais> Acesso em: 25/09/2013.
Comentários
Postar um comentário