Reconceituando Educação Ambiental
Prof. Aziz Nacib Ab'Saber
Educação Ambiental é uma coisa mais séria do que geralmente tem sido apresentada, em nosso meio. É um apelo à seriedade do conhecimento. É uma busca de propostas corretas de aplicação de ciências. Uma "coisa" que se identifica com um processo.
Um processo que envolve um vigoroso esforço de recuperação de realidades nada simples. Uma ação, entre missionária e utópica, destinada a reformular comportamentos humanos e recriar valores perdidos ou jamais alcançados. Um esforço permanente na reflexão sobre o destino do homem - de todos os homens - face à harmonia das condições naturais e o futuro do planeta "vivente", por excelência. Um processo de Educação que garante um compromisso com o futuro.
Envolvendo uma nova filosofia de vida. E, um novo ideário comportamental, tanto em âmbito individual, quanto na escala coletiva. Para atingir seus objetivos, a Educação Ambiental - aquela verdadeira e incorruptível - exige uma sensibilidade especial para as coisas da natureza e a melhoria da estrutura da sociedade. Logo, carece de um certo conhecimento articulado sobre a região que serve de suporte, para homens-habitantes, homens-produtores, e homens integrados em certas condicionantes sócio econômicas.
É impossível consolidar um corolário de Educação Ambiental exclusivamente em atendendo à escala planetária ou à escala nacional. Pelo contrário, ele envolve todas as escalas. Começa em casa. Atinge a rua e a praça. Engloba o bairro. Abrange a cidade ou a metrópole. Ultrapassa as periferias. Repensa o destino dos bolsões de pobreza. Penetra na intimidade dos espaços ditos "opressores". Atinge as peculiaridades e diversidades regionais. Para só, depois, integrar, em mosaico, os espaços nacionais. E, assim colaborar com os diferentes níveis de sanidade exigidos pela escala planetária, dum fragmento de astro que asilou a vida e deu origem aos atributos básicos do ser que pensou o Universo.
A Educação Ambiental obriga-nos a um entendimento claro sobre a projeção dos homens em espaços terrestres, herdados da natureza e da história. O lugar de cada um nos espaços remanescentes de uma natureza modificada; o lugar de cada um nos espaços sociais criados pelas condicionantes sócio-econômicas. E, tempo suficiente, para pensar na harmonia ou nos desajustes entre as formas de ocupação dos solos rurais, face à posição, dinâmica e tendência de crescimento das cidades. Os organismos urbanos estão sempre invadindo espaços rurais, produtores de alimentos e matérias primas: nunca se ouviu falar de espaços urbanos invadidos por atividades agrárias! Quando se estabelece a conurbação em uma rede de cidades, a emenda das manchas urbanas implica em um desaparecimento completo da produtividade agrícola regional.
A preocupação básica da Educação Ambiental é a de garantir um meio ambiente sadio para todos os homens e tipos de vida existentes na face da Terra. Pretende-se ajudar a preservação da biodiversidade in situ: re-introduzir vegetação onde for possível; seqüestrar o gás carbônico liberado para a atmosfera nos últimos 100 anos da Revolução Industrial; multiplicar os bancos de germoplasma necessários à produção de alimentos, e, à introdução ou re-introdução de biomassas de interesse ambiental, social e econômico. Resguardar a biodiversidade animal, evitando interferências maiores nos nichos e habitats que propiciaram condições para a permanência de diferentes espécies. Enfim, evitar extinções provocadas por ações predatórias, tão inconseqüentes quanto muitas vezes desnecessárias.
Garantir a existência de um ambiente sadio para toda a humanidade implica em uma conscientização realmente abrangente, que só pode Ter ressonância e maturidade através da Educação Ambiental. Um processo educativo que envolve ciência e ética, e uma renovada filosofia de vida, dotados de atributos e valores essenciais: capacidade de escrever sua própria história; informar-se permanentemente do que está acontecendo em todo o mundo; criar culturas e recuperar valores essenciais da condição humana. E, acima de tudo, refletir sobre o futuro do planeta.
Para alcançar seus objetivos maiores, a Educação Ambiental defende uma somatória de sanidades. Sanidade do ar. Sanidade das águas. Sanidade das coberturas vegetais remanescentes. Sanidade do solo e do subsolo. Uma maior harmonia e menos desigualdades no interior da sociedade. A possibilidade de uma habitação adequada e sadia. Um transporte coletivo menos sofrido (e menos poluente). Condições razoáveis no ambiente de trabalho "intramuros". Nas fábricas e oficinas. Um ambiente que ajude a prolongar a vida e o bem estar de todos os membros da sociedade: crianças, velhos e adultos. Não há que pagar um dinheiro extra a título de salário de insalubridade, quando se sabe que a continuidade desta atividade, em condições ambientais tão precárias, é o caminho para a doença, o envelhecimento precoce, a morte. Há que exigir, sim, um ambiente o mais sadio possível, no interior de todas as instalações industriais. É imoral e desumano pagar um pouco mais para que pessoas "esteios de família" vivam menos.
Enfim, Educação Ambiental exige método, noção de escala; boa percepção das relações entre tempo, espaço e conjunturas; conhecimentos sobre diferentes realidades regionais. E, sobretudo, códigos de linguagem adaptada às faixas etárias do alunado. É um processo que, necessariamente, revitaliza a pesquisa de campo, por parte dos professores e dos alunos. Implica em um exercício permanente de interdisciplinaridade - a prévia da transdisciplinaridade. Faz balançar o gasto coreto das velhas disciplinas, eliminando teorizações elitistas e aperfeiçoando novas linhas teóricas, em bases mais sólidas e de entendimento mais amplo. Nesse sentido, a Educação Ambiental, bem conduzida, colabora efetivamente para aperfeiçoar um processo educativo maior, sinalizado para a conquista ou reconquista da cidadania. É a nova "ponte" entre a sabedoria popular e a consciência técnico-científica. Um artifício e uma escadaria para se escapar da impotência e infertilidade da torre de marfim, e esgrimir no céu aberto do cotidiano.
Não há lugar para se conduzir, no processo educativo, - dito ambiental -, tentando impingir noções genéricas para habitantes da beira de um lago ou das margens de um rio ou "furo" da Amazônia, e estendendo-se para os moradores dos sertões interiores ou das coxilhas do Rio Grande do Sul. Ou, tentar utilizar material documentário preparado para alunos residentes em áreas de solos férteis e rios perenes, projetando-o para meninos ou adolescentes residentes em rústicos sertões do Nordeste Seco, em que os rios correm por 5 a 6 meses durante o ano, e em que as condições culturais e sociais da população são totalmente diversas. Ou, ainda, pretender usar conhecimentos e posturas relacionados aos lindos litorais do Brasil atlântico, no ensino dirigido para crianças, adolescentes e adultos, condenados à vivência em favelas. Ou , aos pobres trabalhadores, semi-escravos, que mourejam no coração das selvas.
Texto sobre EA para o Encontro da Juventude para o Meio Ambiente:
Extraído em 22/05/2004, http://www.rebea.org.br/vnoticias.php?cod=313
Disponível em 23/09/2007, www.salesianos.com.br/downloads/subsidio.doc.
Mais sobre Aziz Ab'Saber em Profissão: Geógrafo (aqui)
Olá Ricardo
ResponderExcluirÓtimo Blog. Parabéns.
Tá adicionado à minha lista.
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