Pular para o conteúdo principal

Mudanças climáticas e Dinastias chinesas

Extraído da Folha de São Paulo (Caderno Ciência, 7/11/2008)

Poder chinês sucumbiu a mudanças do clima

Estiagens coincidiram com queda de dinastias, revela o registro geológico

Dados das monções da Ásia coincidem com registros feitos nos Alpes e na América; chuvas ajudaram a estabilidade política

"Science"
Amostra de caverna do norte da China analisada para estudo

EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL 

Clima, radiação solar e cultura. Na China, o ritmo das monções (sistema climático que transporta calor e umidade por sobre uma das regiões mais populosas do planeta) ajudou até a derrubar algumas poderosas dinastias, mostra estudo publicado hoje na revista "Science".
Os dados da intensidade dos períodos de seca e de chuva foram obtidos para um intervalo de tempo correspondente aos últimos 1810 anos. As informações químicas estavam registradas em uma rara estalagmite (formação calcária que se deposita lentamente) na caverna Wanxiang, no norte do país.
A concentração de dois tipos de átomo de oxigênio na estalagmite varia de acordo com o clima -se mais seco ou mais chuvoso. Como o calcário se deposita em camadas nessa rocha com o passar dos anos, é possível saber, ao analisar sua composição, como períodos de estiagem e de chuvas se sucederam ao longo da história.
Os resultados do estudo, feito por chineses e americanos, revelam três intervalos onde as monções foram anormalmente fracas -o que resultou em períodos de estiagem.
As primeiras grandes secas, no período estudado, ocorreram entre os anos 850 e 940. O segundo intervalo foi entre 1350 e 1380. As últimas alterações climáticas bem marcadas dataram de 1580 a 1640.
Durante essas três grandes secas, indica o estudo, ocorreram mudanças importantes na história política da China.
As seis primeiras décadas do primeiro intervalo seco coincide com o fim da dinastia Tang. Em meados do século 14 começou a decadência da dinastia Yuan. E, na virada do século 16, quem deixou o poder foi a importante dinastia Ming.
O clima, defendem os autores, teve um papel importante em todas essas mudanças. "Mas é claro que outros fatores também pesaram", disse à Folha Hai Cheng, geólogo da Universidade de Minnesota (EUA) e co-autor da pesquisa.
No mesmo período em que a seca prejudicava as ambições políticas da dinastia Tang, no século 9º, do lado de cá, no centro do continente americano, os maias declinavam.
A correlação também é positiva com as informações já processadas sobre as épocas de retração e aumento da quantidade de neve sobre os Alpes suíços. "Essa é uma relação bastante clara", afirmam os autores. No período em que as monções de verão na Ásia foram mais fracas, as geleiras nos montes europeus avançaram. A recíproca, neste caso, também é verdadeira.



Mais água no arroz
As concentrações de isótopos (tipos diferentes) de oxigênio também revelam períodos onde o clima favoreceu a dinastia que estava no comando do território chinês.
Isso ocorreu, principalmente, entre 960 e 1020. Com mais chuva, o cultivo do arroz prosperou, a população aumentou e a estabilidade no poder, controlado pela dinastia Song, foi total, disse Cheng.
Apesar da relação positiva entre as monções e a política, os dados analisados a partir dos anos 1960 do século passado não batem com todo o restante da série histórica. Ou seja, a alteração das monções não é explicada pela variabilidade natural do clima de forma direta.
"O enfraquecimento das monções neste último período pode ser resultado de forças antropogênicas [aquecimento global]", diz Cheng. A questão, agora, é saber se isso terá conseqüências políticas.

PARA SABER MAIS:

Science 7 November 2008:
Vol. 322. no. 5903, pp. 940 - 942
DOI: 10.1126/science.1163965




REPORTS

A Test of Climate, Sun, and Culture Relationships from an 1810-Year Chinese Cave Record



Pingzhong Zhang,1 Hai Cheng,2* R. Lawrence Edwards,2 Fahu Chen,1 Yongjin Wang,3 Xunlin Yang,1Jian Liu,4 
Ming Tan,5 Xianfeng Wang,2 Jinghua Liu,1 Chunlei An,1 Zhibo Dai,1 Jing Zhou,1Dezhong Zhang,1 Jihong Jia,1 
Liya Jin,1 Kathleen R. Johnson6
A record from Wanxiang Cave, China, characterizes Asian Monsoon (AM) history over the past 1810 years. The summer monsoon correlates with solar variability, Northern Hemisphere and Chinese temperature, Alpine glacial retreat, and Chinese cultural changes. It was generally strong during Europe's Medieval Warm Period and weakduring Europe's Little Ice Age, as well as during the final decades of the Tang, Yuan, and Ming Dynasties, all times that were characterized by popular unrest. It was strong during the first several decades of the Northern Song Dynasty, a period of increased rice cultivation and dramatic population increase. The sign of the correlation between the AM and temperature switches around 1960, suggesting that anthropogenic forcing superseded natural forcing as the major driver of AM changes in the late 20th century.
1 Key Laboratory of Western China's Environmental Systems (Ministry of Education), College of Earth and Environment Sciences, Lanzhou University, Lanzhou 730000, China.
2 Department of Geology and Geophysics, University of Minnesota, Minneapolis, MN 55455, USA.
3 College of Geography Science, Nanjing Normal University, Nanjing 210097, China.
4 Nanjing Institute of Geography and Limnology, Chinese Academy of Sciences, Nanjing 210008, China.
5 Institute of Geology and Geophysics, Chinese Academy of Sciences, Beijing 100029, China.
6 Department of Earth System Science, University of California, Irvine, Irvine, CA 92697, USA.

(http://www.sciencemag.org/cgi/content/full/sci;322/5903/940?maxtoshow=&HITS=10&hits=10&RESULTFORMAT=&andorexacttitleabs=and&fulltext=china&andorexactfulltext=and&searchid=1&FIRSTINDEX=0&sortspec=date&resourcetype=HWCIT)

Science 7 November 2008:
Vol. 322. no. 5903, pp. 837 - 838
DOI: 10.1126/science.322.5903.837a

NEWS OF THE WEEK


CLIMATE CHANGE:
Chinese Cave Speaks of a Fickle Sun Bringing Down Ancient Dynasties

Richard A. Kerr

Comentários

Postagens mais vistas nos últimos 30 dias

Expansão urbana da cidade de São Paulo (1800-2000)

Os mapas e arquivos mostrando a expansão urbana de São Paulo estão acessíveis gratuitamente no site da Lincoln Institute of Land Policy, como parte do Atlas da Expansão Urbana, organizado por Angel (2010). Mais informações sobre o Atlas no site . Fonte: ANGEL, S., PARENT, J.;  CIVCO D.; BLEI, A. Atlas of Urban Expansion. Cambridge MA: Lincoln Institute of Land Policy, 2010. Online at  http://www.lincolninst.edu/subcenters/atlas-urban-expansion /. Sobre o projeto: "The Atlas of Urban Expansion provides the geographic and quantitative dimensions of urban expansion and its key attributes in cities the world over. The data and images are available for free downloading, for scholars, public officials, planners, those engaged in international development, and concerned citizens. The global empirical evidence presented here is critical for an intelligent discussion of plans and policies to manage urban expansion everywhere." Sobre os mapas da seção 2 "30 Cities in Histo

Wikimapia: Tumbas e mausoléus vistos do céu

Pirâmides de Quéops e Quéfren no Cairo, Egito Publicado no Wikimapia blog  em agosto de 2012 - "Top 10 most magnificent tombs of the world on Wikimapia" Nessa postagem é possível ver a localização de outros nove tumbas e mausoléus famosos. Taj Mahal The Che Guevara Mausoleum

Mapa do mundo - Habitantes por médico

(clica no mapa para ampliar) Legenda: Amarelo = menos habitantes por médico Vermelho = mais habitantes por médico Fonte de Dados: The World Health Report 2006 -------------------------------------------------------------------------- Versão traduzida e adaptada por RSD a partir de: Strange Maps Este pôster (publicado em Setembro de 2007) estava dependurado na parede da sala de espera de um médico na Holanda. Esta é a forma que eles utilizam para mostrar aos holandeses como eles são privilegiados quando vão procurar ajuda médica e, dessa forma, tentar conscientizá-los da importância de ajudar os Médicos do Mundo (Doctors of the World) a ajudar os menos privilegiados. Sobre o mapa: Cuba é líder mundial na relação pacientes por médico. Outros países que possuem uma boa relação entre médicos e habitantes são os da antiga União Soviética, cujo sistema de saúde pode ser considerado bom e barato, e os países mais economicamente desenvolvidos. Na Europa a relação de número